segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Fim

Caro senhor, 
aqui o tempo ainda se faz frio. 
Eu sento armada de papel e caneta, a esta altura da madrugada, apenas para lhe revelar o que há pouco não fiz em sua presença. Mais uma vez, o senhor partiu meu coração. Com golpes sutis de realidade crua, partiu em pedaços o coração que outrora era cheio de lembranças bem intencionadas. O senhor não sabe quão duro foi para mim, perceber que chorava uma lágrima quase seca, ao receber sua "boa" nova. Assim, se fez a minha tristeza. Confesso-lhe que estou cansada. Cansei de lembrar-lhe a todo momento. Cansei do meu bem querer despresado e das minhas ilusões frustradas. É bobagem, eu sei. Mas fazer o que se a vida me impôs a condição de viver sonhando acordada? 
Já é tarde. É tarde da noite, tarde das horas... É tarde para mim e para nós. Nós que

 nunca existimos e estavámos em toda rima confusa de fim de poesia. É tarde para pensar em versos. É tarde para querer voltar atrás.
A primavera chegou e ainda que o senhor tenha esquecido, o frio daqui não é constante como pensam os forasteiros. Eu gostaria que o senhor pudesse ver as flores do meu jardim agora. As jasmins estão repletas de botões. E é só isso, que me faz sorrir agora. Porque o perfume da minha jasmim preferida, há de renovar as esperanças mortas que escorrem nas paredes do meu quarto.
Sim, caro senhor. A vida não nos foi fiel. Nos traiu em desventuras mórbidas. Nos feriu com saudades sem cura. É assim.
Siga seu caminho e por favor, me deixe em paz.
Quero assistir a primavera em seu auge, sem ter que me preocupar com as batidas erradas do meu coração.

Com amor, da sua profundamente magoada, Teresa.